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“Pare de comer doce, você está criando barriga”

Estamos vivendo em uma fase em que mais pais estão preocupados com a alimentação e a saúde nutricional das crianças. E isso é ótimo! Dar uma atenção especial à alimentação na infância de forma preventiva é muito mais interessante que deixar para se corrigir os erros mais tarde, quando uma situação negativa já está instalada.


Aproveitando que dia 2 de Junho foi o Dia de Conscientização dos Transtornos Alimentares e dia 3 de Junho foi Dia de Prevenção da Obesidade Infantil. Vale a pena conversarmos um pouquinho sobre o quanto esses tópicos se entrelaçam.


É muito importante que nossa tentativa de evitar hábitos alimentares inadequados não se transforme em terrorismo nutricional. Prevenir doenças relacionadas com a alimentação como diabetes e hipertensão não pode vir atrelada com o aumento do risco de transtornos alimentares. Para você ter uma ideia, a probabilidade de uma criança apresentar transtorno alimentar é 242 vezes maior que apresentar diabetes tipo 2. E ter um transtorno alimentar resulta em menor qualidade de vida e maior risco de morte que no diabetes tipo 2.


Eu já falei por aqui por que é importante não oferecermos alimentos ou bebidas com açúcar para crianças menores de 2 anos. Mas e depois?


Em torno dessa idade, a criança começa criar sua autonomia e consegue perceber a si mesma como parte de um ambiente social. Ela está vendo o que outras crianças da idade dela consomem e tem consciência de que ela pode querer ou não esses alimentos.


É por isso que a partir dessa idade, precisamos entender que as restrições alimentares podem ter efeitos negativos, como os emocionais, sociais e até familiares. A criança pode se sentir diferente, isolada ou discriminada. Pode também ficar com medo de não alcançar as expectativas dos pais e ficar obcecada com os alimentos. E isso é risco para transtornos alimentares.


A forma mais interessante é prevenir dos dois lados! Vamos aos passos de como fazer isso?

  • Oferecer uma alimentação adequada e respeitando os sinais de fome e saciedade da criança desde bebê. Lembrando: 1) nada de forçar que a criança acabe a mamadeira ou raspe o prato; 2) sempre ter disponível alimentos nutritivos para a criança caso ela apresente fome (é preciso organização, a partir do 6º mês, tem que sempre sair com alguma opção de comida ou lanche).

  • Não oferecer alimentos adoçados ou ultraprocessados até os dois anos, fase em que a criança está estabelecendo suas preferências alimentares de forma mais acentuada.

  • Ter sempre à disposição frutas e vegetais para as crianças, além de comida feita em casa para as refeições principais.

  • Nada de telas (TV, computador ou celular) durante as refeições.

  • Não ter à disposição no dia-a-dia alimentos como bolachas, doces e salgadinhos e bebidas como refrigerante (e até os 2 anos, nunca oferecer/permitir esses alimentos).

  • Quando esses alimentos não são oferecidos rotineiramente às crianças, não é preciso fazer restrição ou controle de ingestão quando eles estiverem em uma festinha de aniversário, por exemplo (pois situações eventuais não alteram estado físico de saúde).

  • Realizar atividades em família como ir a parques, andar de bicicleta, jogar bola, curtir a piscina do clube, caminhar com o cachorro, etc.

  • Estimular a prática de esportes que a criança gosta.

Se você acha que a alimentação de seus filhos está desequilibrada, com poucas frutas, vegetais e comida feita em casa ao mesmo tempo que apresenta alta ingestão de bolachas, doces, salgadinhos e bebidas adoçadas, é porque você está oferecendo esse ambiente. Afinal de contas, quem faz as compras?


Todo ser humano tem preferência por alimentos com açúcar, gordura e sal. Nosso corpo é programado para gostar muito deles. E a indústria sabe muito bem disso, por isso exagera nesses ingredientes. Ou seja, não é sua culpa que seus filhos gostem desses alimentos, mas é sua responsabilidade comprá-los ou não.


Outro fator importantíssimo quando falamos sobre alimentação infantil: EXEMPLO. O que você tem comido na frente de seus filhos? Vou deixar essa pergunta para você pensar.


E já que estamos fazendo perguntas, o que você tem FALADO para seus filhos?

Crianças não vão comer melhor se forem intimidadas por causa de seu peso ou por medo de um alimento mudar sua aparência corporal. Se usarmos frases como a do título dessa postagem, por exemplo, acontecerá exatamente o contrário. Elas vão ter maior sofrimento e podem começar a apresentar sintomas como comer escondido ou comer emocional, além de vergonha de participar de atividades sociais (como brincar) e físicas (como esportes, aulas educação física, etc). Isso por acaso lhe parece saudável? Cuidado com as palavras!

E lembre-se que barganha também não ajuda.


A questão é que os pais não precisam falar nada. A alimentação da criança é um reflexo do ambiente que é oferecido a ela. Não se pode colocar a culpa na criança de ter uma alimentação restrita a alimentos processados. É responsabilidade dos pais oferecer um ambiente saudável. Restrições não são necessárias (e podem ser prejudiciais).


Oferecer um ambiente alimentar positivo para as crianças (e toda família) dá mais trabalho? Sim. Exige comprar e higienizar as frutas e vegetais. Exige aquecer a barriga no fogão. Exige sentar à mesa com toda família no momento das refeições. Exige ter que lidar com louça e cozinha sujas depois.


Sim, ter filhos exige tempo e dá trabalho.


Mas vamos ver os pontos positivos disso:

  • Toda família se beneficia com essas mudanças;

  • É possível colocar todo mundo para ajudar, o que vai diminuir o tempo das crianças em frente às telas também (e é claro que eles vão reclamar, faz parte);

  • Vocês terão mais tempo juntos, podem falar sobre o que aconteceu durante o dia de cada um e se conectar mais, organizar a agenda da família, planejar as próximas férias, saber se tem alguma coisa acontecendo no colégio dos filhos, perceber se alguém está precisando de apoio para lidar com alguma situação...


Faça o teste.

Não desista no primeiro mês.

Faça pequenas mudanças por vez, mas que possam ser consistentes.

Não conseguiram sozinhos? Consultem um profissional especializado (que nesse caso, não é o pediatra).

Depois responda: não valeu a pena?

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